sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Michael Klein, o rei do Natal


Michael Klein, o rei do Natal
À frente das Casas Bahia, o empresário
estima faturar R$ 1 bilhão em dezembro
e fechar o melhor ano da sua história

Por elaine cotta

Michael Klein tinha apenas 3 anos de idade quando seu pai, Samuel, inaugurou a primeira unidade das Casas Bahia, em 1952. Hoje, aos 55 anos, o empresário se orgulha de ser o administrador da maior rede de lojas de departamento do País, um gigante econômico de R$ 8 bilhões que terá, neste final de 2004, um dos momentos mais brilhantes da sua trajetória. “As pessoas irão se surpreender com o nosso resultado”, diz Klein, com brilho nos olhos e um sorriso de quem espera um Papai Noel especialmente generoso. “Será o nosso melhor Natal de todos os tempos”, sublinha. Só no mês de dezembro, as Casas Bahia devem faturar R$ 1 bilhão, mais do que a cervejaria Kaiser arrecadou durante todo o ano de 2003. Desse total, R$ 50 milhões devem sair das vendas da Super Loja, instalada desde o início do mês numa área de 52 mil metros quadrados no pavilhão de exposições do Anhembi, em São Paulo. Neste espaço – mais uma idéia pioneira dos Klein –, além dos estandes onde são vendidos eletroeletrônicos e eletrodomésticos, foram montados cinema, palco e uma arena para atividades esportivas. No primeiro domingo de dezembro passaram pela loja pouco menos de 60 mil pessoas. “Nesse ritmo, no ano que vem não vamos caber no Anhembi”, brinca Klein, para quem o evento é um grande campo de testes para as Casas Bahia. Mil novos produtos estão à disposição do público, muitos dos quais poderão ser definitivamente incorporados ao portfólio da rede. É um bom negócio para o grupo e para os seus fornecedores. Como disse uma vez o fundador da empresa, o imigrante polonês Samuel Klein, “não adianta fabricar se as Casas Bahia não vendem”.
Foto: Ana Paula Paiva
CRÉDITO E ENTREGA
Os segredos da rede de varejo que mais cresce no Brasil são crédito fácil (no alto) e entrega, garantida pela terceira maior frota do País


Novos recordes. Acostumada a bater recordes, este ano a empresa dos Klein está ultrapassando seus próprios limites. Até novembro, vendeu 3,4 milhões de aparelhos celulares, 709 mil DVDs e 327 mil aparelhos de TV. Isso equivale a um quarto das vendas de TVs e a um terço das vendas de celulares realizadas no Brasil. A Super Loja do Anhembi, que deve receber 2 milhões de pessoas até 30 de dezembro, concorre a entrar no Guinness Book como a maior loja do mundo. A rede possui ainda o segundo maior depósito do planeta (atrás somente da Coca-Cola) e emprega 32,5 mil funcionários. Neste ano, sozinha, ela gerou 11 mil novos postos de trabalho, mais que as principais montadoras juntas. A empresa tem 2.100 caminhões próprios, que a transformam na terceira maior transportadora do País. Essa frota é tão imponente, que a sua fornecedora, a Mercedes-Benz, instalou um centro de manutenção exclusivo, com mecânicos à disposição 24 horas por dia. Mesmo o faturamento previsto para este ano, de R$ 8 bilhões, supera o dos cinco principais concorrentes – juntos. “Eles são tão bem-sucedidos que se dão ao luxo de violar as regras do próprio negócio”, afirma Ulisses Reis, especialista em varejo da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Na área de transporte, por exemplo, a regra é terceirizar, mas as Casas Bahia não embarcam nessa. “Nosso segredo é o pós-venda”, explica Michael Klein. “Ao controlar a frota, garantimos que a mercadoria seja entregue e instalada no prazo.” Para 2005, a estimativa do empresário é manter o mesmo ritmo de crescimento dos últimos anos. Isso significa atingir R$ 10 bilhões de faturamento no ano que vem, uma vez que, desde 2003, as vendas da empresa crescem R$ 2 bilhões (ou uma rede de Lojas Americanas) a cada 12 meses.

“Não lembro quando foi a última vez que tirei férias”, revela Michael Klein. Noivo, ele prepara o casamento e a segunda lua-de-mel de sua vida. “Neste ano eu casei meus dois filhos. Está chegando a minha vez”, diz ele. Vai ser difícil achar uma data. Só em 2004 serão inauguradas 60 novas lojas do grupo, e nenhuma delas ocorre sem a presença do seu capitão. No mês passado, Michael abriu uma megaloja na Praça Ramos de Azevedo, no Centro de São Paulo, no prédio onde por décadas funcionou o antigo Mappin, o mais refinado magazine paulistano. Ali os Klein estimam faturar R$ 10 milhões por mês. “Quando eu cheguei a São Paulo, queria comprar um presente para a minha mulher no Mappin e não tinha dinheiro”, lembrou, recentemente, Samuel, o patriarca da família. “Hoje”, concluiu, “o Mappin é meu.” Mas essa compra, apesar de toda a simbologia, não é a grande aposta das Casas Bahia para este Natal. Do seu quartel-general, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, Michael articulou no final de ano parcerias com outros dois grandes nomes da constelação empresarial do País: Bradesco e Nestlé. Com o maior banco privado brasileiro, fechou um acordo que ampliará a carteira de crédito da rede em R$ 100 milhões por mês, no mínimo. “Fomos sondados pelos cinco maiores bancos, mas foi o Bradesco quem aceitou manter a nossa forma de análise para concessão de crédito”, revela Michael. O financiamento em parcelas a perder de vista é um dos segredos do negócio da família. Os Klein se gabam de oferecer prestações que cabem no bolso das pessoas, com taxas de juros de 4% ao mês. As lojas da família têm uma carteira de 8 milhões de clientes e movimentam anualmente cerca de R$ 4,5 bilhões. É um bruta negócio. Agora, a estimativa do Bradesco é acrescentar R$ 3 bilhões por ano ao volume de crédito. “Por que mexer num time que está ganhando?”, pergunta Paulo Isola, diretor do Bradesco que conduziu a negociação. Já a Nestlé, a maior empresa de alimentos do mundo, vai instalar pontos-de-venda em 50 lojas das Casas Bahia nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País. Ali serão comercializados sorvetes, chocolates, água e iogurtes. “Achamos que seria bom para o negócio e para a imagem da Nestlé”, diz Carlos Faccina, diretor de assuntos corporativos. A empresa vai investir R$ 4 milhões no projeto. Qual o segredo de tanto sucesso? “Levar ao pé da letra o slogan Dedicação Total a Você”, responde Michael, sem titubear. “Queremos que o cliente volte.” E eles têm voltado.
OS NÚMEROS DAS CASAS BAHIA

Verba de propaganda: R$ 240 milhões

Números de lojas: 404 lojas, 60 inauguradas em 2004

Empregados: 32,5 mil, 11 mil contratados este ano

Depósito de 1,26 milhão de m² (menor apenas que o da Coca-Cola em Atlanta)

Frota própria: 2.100 caminhões, todos Mercedes-Benz

Nenhum comentário: